Andava. Num dia útil pouco após o almoço, andava só. Eu-olho, olhava mais para o chão que para o céu neste dia, e o que se antecipou ao meu olhar foram suas meias listradas. Listras sempre me atraíram, pés, sapatos e passos também.
Das listras, percorri um corpo franzino e encontrei um rosto de vida antiga e vivida. Linhas do tempo falavam por aquele rosto, linhas de tempo falavam por aquele corpo. Imediatamente me afundei numa vida que desconhecia completamente. Sem nada ouvir, sem nada saber dessa simpática senhora, fez vibrar em mim vozes, imagens, sentimentos e texturas que me eram estranhas e, paradoxalmente, me pertenciam com uma certa familiaridade.
Interrompi meus passos, hesitei minha sequência de dia e quis conhecê-la; saber seu nome, idade, história, hábitos de vida, tristezas, alegrias e sínteses de sabedoria. O que consegui fazer foi abordá-la com timidez e ouvir em voz mais tímida ainda um consentimento para uma foto e seu nome soletrado espaçadamente.
Um corpo de vida antiga e vivida posou acanhado para meu olhar, e
eu me curvei ao tempo diante dela, me curvei à vida diante dela.
Revelei a foto e ando com ela na bolsa na esperança de encontrá-la e poder presenteá-la, e, assim, apreender seu nome e um pouco da vida desta vida.
Nossa Roberta, isso acontece sempre de encontrar pessoas e ficar imaginando o que está por trás dessas vidas passadas,que continuam ali paradas nesse tempo da gente, parecem figuras surreal. Elas aparecem do nada e do nada somem. Bjs
ResponderExcluirLonga Vida aos bons encontros!
ResponderExcluirEsta cada vez melhor na composições fotograficas.. enquadramento, tema descentralizado...parabéns!!! Bacana entregar a foto tb!!!
ResponderExcluirE assim é a vida, re-encontros, despedidas,??????? muitos ????
Olá, Roberta. Recebi o fly do seu log no Tribus e vim aqui hj, encontrar tuas belas e fortes palavras de encontros e vida. Muito bom tudopor aqui. Voltarei sempre. Abraços!
ResponderExcluirSublime, Roberta...lindo, eu diria. As palavras são escassas a mim quando se trata de 'vidas'.
ResponderExcluirAdoro mesmo o cometário de vcs.....aqueles que comentam sempre, aqueles que vez ou outra passam por aqui, aqueles que acabam de chegar. Gosto mesmo é de saber que o que nos liga é exatamente o que nos é mais próximo; as coisas que nos tangem no cotidiano.
ResponderExcluirabraços carinhosos a todos.
Gostei. De uma sensibilidade... que mobilizou o sentir em mim. Me tirou um pouco do automático.
ResponderExcluirOlá!
ResponderExcluirSempre leio suas reflexões que logo transformam - se na minhas reflexões e certamente sugere reflexões em todos que leêm.
Quando vier à Curitiba poderá fazer milhares de quadros.
Linda foto
Abração.
Henrique Morais
A foto está linda, ficou perfeita.
ResponderExcluirEntretanto,o que mais me sensibilizou nesta foto é que ela por si só fala, fico imaginando as milhares de histórias e saberes que podem vim desta frágil e encantadora senhora. A foto fala muito, sem ter de imediato a necessidade de palavras. Mas seria maravilhoso ouvir um pouco de palavras vinda desta querida!
"Todos nasceram velhos — desconfio.
ResponderExcluirEm casas mais velhas que a velhice,
em ruas que existiram sempre — sempre
assim como estão hoje
e não deixarão nunca de estar:
soturnas e paradas e indeléveis
mesmo no desmoronar do Juízo Final.
Os mais velhos têm 100, 200 anos
e lá se perde a conta.
Os mais novos dos novos,
não menos de 50 — enorm'idade.
Nenhum olha para mim.
A velhice o proíbe. Quem autorizou
existirem meninos neste largo municipal?
Quem infrigiu a lei da eternidade
que não permite recomeçar a vida?
Ignoram-me. Não sou. Tenho vontade
de ser também um velho desde sempre.
Assim conversarão
comigo sobre coisas
seladas em cofre de subentendidos
a conversa infindável de monossílabos, resmungos,
tosse conclusiva.
Nem me vêem passar. Não me dão confiança.
Confiança! Confiança!
Dádiva impensável
nos semblantes fechados,
nos felpudos redingotes,
nos chapéus autoritários,
nas barbas de milénios.
Sigo, seco e só, atravessando
a floresta de velhos."
Carlos Drummond de Andrade.
Nossa Roberta! Quem dera essa fosse uma constante em nossas vidas... olhares atentos e repletos de sensibilidade... fabuloso!
ResponderExcluirAmanda
Olá Roberta,
ResponderExcluirEssa foto me transportou para BH. Ainda pulsa em mim tudo que se experimentou no Seminário Esquizo.
Conheci essa vida lá, no encontro sobre esquinas, nomadismo e outras "miudezas".
Por uma VIDA de miudezas e sutilezas!!
Um forte abraço,
Ana Lúcia
Belém-PA
Ana Lucia, um beijo aquecido de afeto para vc que se entrecuza nas esquinas de BH, Belem e maringá na disposição de encontrar essa e outras vidas.
ResponderExcluirabraço forte e cheio de miudezas para nos fazer vibrar.
A cada (des)conhecido o trabalho ganha mais força.
ResponderExcluirMuito bom.
Rô, lindas as tuas palavras.
ResponderExcluirE riquíssimo esse seu olhar.
Beijo querida
Obrigada Julia...esse projeto é muito bonito mesmo e desde então são muitas as vidas que tenho encontrado pela cidade.
ResponderExcluirbjj
sem palavras
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