segunda-feira, 23 de maio de 2011

.des/forjando gêneros.

Para escapar de essencialismos preconceituosos que fixam prerrogativas morais de se comportar, agir e desejar, é interessante pensar em performances de gênero. Somos a superfície expressiva de uma gramática textual que a cultura tenta inscrever em nosso corpo, é a isso que Judith Butler tenta chamar a atenção quando denomina gênero enquanto performance. Gênero então é uma questão cênica, fato que tanto denuncia o modo como reproduzimos padrões normativos de comportamentos quanto nos convida e provoca a sermos autores de nossos modos de vida, re-significando e criando outras relações com o corpo e desejo.  Ao vestirmos como carne a aparência superficial de um corpo pré-moldado em plástico,  deflagramos  a máscara que insiste em imprimir-se na profundidade de nossa pele.

A intervenção com os manequins surgiu ao encontrá-los no lixo na ocasião mesma da passeata pela diversidade que ocorreu no dia 22 de maio na cidade de Maringá. Obrigada a todos que se dispuseram a vestir-se com essa alegoria de corpo belo, pleno e consumível idealmente.














































domingo, 22 de maio de 2011

.à espreita da montagem.



Este vídeo foi confeccionado a partir da instalação "À espreita da montagem" realizada no III Acampsi.

É pela distância e estranheza, que esta instalação causa um desconfortável sentimento de proximidade e pertencimento à linha de montagem. Somos também esta esteira de produção de normatividades utilitárias que tanto aclamamos como fora de nós, como coisa do sistema, do capital.

A esteira está inscrita em nosso corpo, em nosso funcionamento.

É também por esta distância e estranheza que percebemo-nos fora desta linha de montagem, e algo de luminoso se instaura em nossa consciência. Não, eu não faço parte desse movimento redundante, me perceber de tal maneira me encarna um desconforto.

Agora, há uma luz que me incomoda e que não se pode apagar. Saio da instalação com outra magnitude existencial. Meu campo de vida se amplia iluminado pelo estranhamente familiar, e disso eu não posso fugir, mesmo que sobre isso não consiga dizer nada, pelo menos não agora, de imediato. Está na sua pele, está aí, nela. Serve para lembrar que é à espreita da montagem que des/montamo-nos outros.


segunda-feira, 16 de maio de 2011

.Ressonâncias Sensoriais.

Segue aqui algumas ressonâncias sensoriais que só confirmam a vibração relacional que ressoa deste quadrado insólito feito de plástico bolha. Obrigada João, Daniel, Carol, Fernando, Maíra, Indira, Lorene, Erick e Bissi pela performance de vocês.                                                                                         .Objeto Sensorial I.





                                               

sexta-feira, 13 de maio de 2011

.hoje eu conheci uma vida.


Revelei a foto e ando com ela na bolsa na esperança de encontrá-la e poder presenteá-la, e, assim, apreender seu nome e um pouco da vida desta vida. 


Maringá, 11 de maio de 2011, hoje de manhã adiantei um dia no meu relógio por que achei que eu estava certa e ele errado, no almoço fui a um lugar que não estava mais lá e acabei indo em outro, no restaurante popular, bem pertinho da minha casa, no roteiro de todos os meus dias. Ali eu conheci uma vida.

Com sua foto na bolsa, re-encontrei Miharu Sogab a esperar a filha para o almoço. De inicio não me reconheceu, mas logo a memória veio à pele e nos olhamos com familiar alegria. Ela ficou muito feliz com a foto, me abraçou uma vez e a cada inicio de despedida outra, outra e outra vez.  Quatro abraços, seguidos sorrisos tímidos e abertos pela surpresa feliz de uma gentileza. Felicíssima,  digo mesmo que ela transbordou de felicidade pela continuidade de um vínculo já perdido na rotina dos dias, no passado recente do cotidiano. Algo de ético fazia sorrir aquela felicidade, a virtuosidade relacional de um encontro que não se esquece justamente por ter existido. Eu também fiquei muito feliz com este acontecimento, em vê-la de perto com tamanha e sincera alegria. Segui minha rotina feliz da vida, acompanhada de um bom encontro e com um sorriso fácil no rosto.

Posso dizer agora que conheci uma vida, Miharu Sogab, uma simpática senhora de 80 anos, que nasceu no dia 30 de março e mora numa chácara porque sempre gostou de trabalhar com a terra. Felizmente conseguiu comprar uma na qual vive com saúde, vindo para a cidade um dia sim e um dia não. Quando em Maringá, almoça com a filha no restaurante popular é lá que posso a encontrar.

Sei que o que sei é pouco para dizer que conheci uma vida, mas sei também que o que sinto é alegre e vivo, com pulsação suficiente para fazer eterno o instante desse encontro que nunca será deixado à memória do esquecimento. 

segunda-feira, 9 de maio de 2011

.Objeto Sensorial Ressonante I.


O Objeto Sensorial Ressonante I ficou exposto no III Acampsi e foi tocado por muitos; foi desfrutado sem ser destruído.



O Objeto Sensorial Ressonante I é uma forma quadrada de 1,20m X 1,20m preenchida de plástico bolha que desperta o querer tocar. Este objeto é um provocador de desejo e ao mesmo tempo que convida a uma experiência sensorial pede também zelo e afeto em vistas da não destruição da obra. Por ser feito de plástico é extremamente frágil. Por ser feito de plástico, remete ao banal e ao descartável. Por ser feito de plástico, não é arte, não é nada e pode ser destruído e desrespeitado. Por ser feito de plástico, nos é muito familiar, é próximo, é  meu, é intimo, é teu, e deve ser zelado por isso.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

.esteira de magnitutes magnético-ontológica.



Esta esteira de magnitudes magnético-ontológica faz vibrar a nossa fibra em seus cantos amortecidos. Cargas sinápticas são disparadas em nossas redes cognitivas sensibilizando o virtual e fazendo brilhar nosso campo perceptivo por outras vias sensoriais. Magnitude é uma escala utilizada para a comparação do brilho das estrelas, é esta luz que a esteira de magnitudes busca ativar; a luz que faz brilhar;  a luz da luz que faz brilhar.