Processualizando a temperatura da febre que não baixa mas permanece morna e opaca, segue uma cartografia das happy familys em circulação por aí. Como signo de inventividade rasa e artífice para demarcar diferenças no solo do sempre igual, os adesivos agora são temáticos, cada membro da família com a camisa de seu time do coração. Se a família for unida mesmo, de laços intrínsecos e inabaláveis, de valores h?manos e cristãos, o que prevalece é o verde e amarelo desse Brasil de todos sem restrições. Pode até parecer que ando implicando muito com este signo de felicidade aparente. Na verdade, é só um lamento triste. Acho essa superfície profunda demais para ficar só no superfícial.
Telefone público, Rua Mandaguari, Maringá-Pr. Música extraída de Voom Portraits, Robert Wilson.
Caminhando alienada em meus passos e com uma atenção flutuante ao que tange essa alienação, algo me fisga. Meu olhar capturado por um verde que acende e apaga e assim permanece no correr dos dias e noites. Disso sei pois por ali passei vezes e vezes depois e aquele telefone público, momentaneamente sem função, segue funcionando em intervalos de luz que dizem assim: FORA DE OPERAÇÃO AGUARDE.... -PORTA ABERTA-
Enigmáticas palavras que mais do que demarcar sentido, nos lançam ao fora do pensamento. Aí, começo este texto novamente, reinicio meu pensamento dentro desse fora.
Porta aberta. Sejam bem vindos neste jogo de construção, a desconstrução já está posta (o insólito logo ali, na próxima esquina, bem pertinho de nós e nossos passos, dentro de nossa rotina-retina). Agora é só brincar no aleatório, o que podemos compor: Aguarde...., estou pensando. Suspendo minha lógica do sentido e a coloco fora de operação. Como opero bem neste lugar, ou melhor, opero para além do bem e do mal. Penso até em permanecer aí, vibrando. Sinto que neste lugar as portas permanecem abertas, outras portas, outras vozes, corujas, grilos, automóveis, flashes reluzentes e constelações de coisas ínfimas, vizinhanças próximas e distantes. Entro num jogo infinito de permanência e proliferação, aguardo tudo e qualquer coisa que se sinta.
Tudo e qualquer coisa. Mesmo numa linearidade louca, o que podemos compor??? Um convite para operar no fora da operação. Portas abertas para a composição, entrem e fiquem a vontade.
Tenho aqui me usado e me interfaceado em cores, cortes e saturações. Por quê? eu e minhas robertas, meus olhos, rostidades, e sob a faca de meu olhar pernas e partes de outros mais próximos que outros ainda. Eu e eu mesma: tempo lançado ao atoa do dentro de mim. O "dentro" de mim.........bom ecoar o dentro de mim para mim e para o vento. Pixels dispersos que me desautorizam a propriedade sobre minha pele, meu olhar e contornos. Momentos lançados ao tempo, ao voltar-se para além de mim, que me escapa. Eu comigo mesma ou você com você, contigo, contudo e todavia / toda-via / todas-as-vias. Morte do sujeito que faz-se outro, nasce e brinca com seus pontos de dissipação,.
ELE.I.XIS.O in-process, estética relacional e esquecimento.
Esses adesivos agora são uma febre, pai, mãe, filhos, cachorros, gatos, corações e papagaios. FEBRE significa uma elevação anormal da temperatura constante sob a influência de uma causa mórbida.Aqui a temperatura não se eleva, mas se nivela por baixo, um achatamento de sentido via significação rasa de sentimentos maiores sob influência de uma causa mórbida: um ideal de felicidade, eco redundante.Nesta foto, o signo maior é aquele que não era para ser, resto de cola colada na superfície de corrosão da imagem. Poeira impregnada no rosto da aparência.Teatro triste que insiste, insiste e insiste. Qual será a invisibilidade disso tudo?
Numa noite de sol, pontos amarelos saltam do asfalto e infinitizam meu olhar. Eu, radiante, amarela e anoitecida. Com a pele desse asfalto na minha, descanço em paz. Deito com o rumor dessa imagem e uma canção a ecoar. This is not a love song.
b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a sb r a n c a s n u v e n s n u v e n s b r a n c a s b r a n c a s
Você entrou. Assim começa um texto de Foucault chamado a força de fugir. Fiquei pensando sobre isso.... as vezes para traçar fugas é necessário estar dentro, saber-se dentro. Assim segue também algumas práticas artísticas contemporâneas, instalações e intervenções que se impõem. Quando se vê, estamos dentro. Já está dentro nós. Dentro de quê? O que pode esse dentro? Como instaurar o fora no dentro, lançar o dentro para fora? Dentro do fora talvez seja adequado. Falando da vida e pela vida, podemos pensar o dentro como nosso próprio cotidiano, no alcance de nossas mãos. O cotidiano como campo de explorações diversas. Nicolas Bourriaud lança o termo "estética relacional" e afirma que as práticas artísticas contemporâneas consideram o intercâmbio humano como objeto estético em si, uma estética relacional na qual a arte somente ganha vida e forma na medida em que dispara interações e processos sociais. Produção de espaços-tempos relacionais; socialidades alternativas; experiências inter-humanas que tentam se libertar. No modo como se representa-apresenta a realidade, as expressões artísticas se valem da distância que demarca a coexistência de si mesma e da realidade para pulverizar contornos e formas já esperadas. Cria um vácuo de estranhamento, valendo-se inclusive do que nos é familiar, fazendo ruir heurísticas e atalhos cognitivos já convencionais. Num deslizamento das margens que demarcam o dentro/fora, bonito/feio, bom/mal, etc., a arte alcança um deslocamento de percepções e afecções habituais, destituindo um território acostumado e inaugurando um espaço a ser criado. Assim caminha o L.I.X.O in-process. Se valer do inútil, do descartável e do invisível como um dispositivo de proliferação de relações que escapam ao convencional mesmo que dela se valham. Uma proposta simples que visa provocar relações singulares com o supostamente desnecessário, instaura o fora no dentro. Fica a dica de dois livros publicados por Bourriaud pela Martins Fontes: "Estética Relacional" e "Pós-produção: como a arte reprograma o mundo contemporâneo". Segue um vídeo-documentário no qual Ben Lewis entrevista alguns artistas plásticos e também o pŕoprio Bourriaud vídeo-estética relacional
Tempo de passagem pela lente e pelo olhar. Tempo desnecessário ao próprio tempo deste que olha e registra. Tempo lento que escorre pelas rugas da parede úmida. Rastro que imprime o instante e se esvai.